Nerdices Filosóficas – Dr. Who: Ciência e Progresso
Confesso, de antemão, que escrevi essa coluna após assistir o pré-episódio do especial The Day of the Doctor, da série Dr. Who, que já abordamos em outras textos.
Porém, não vou falar especificamente sobre o episódio, mas a Ciência
ronda cada episódio da série, afinal, vemos mundos tecnologicamente mais
avançados, inclusive a Terra no futuro. Entretanto, progresso
tecnológico implica em progresso na convivência das pessoas, ou seja, em
ética?
No século XIX, a ciência positiva
torna-se o principal meio de conhecimento. Neste contexto, o termo
ciência tem o sentido de conhecimento através de um método, que a
observação de dados concretos, daí positivos. Simultaneamente ao
desenvolvimento científico da época, há filósofos positivistas, os quais
ao mesmo tempo articulam o método científico e sua aplicação a diversos
campos do conhecimento, como Saint-Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857), Herbert Spencer (1820 – 1903), entre outros.
Nesse contexto, o conceito de progresso,
ou mesmo evolução, está fortemente ligado à ciência, tanto no sentido de
que a ciência sempre progride em linha reta, tornando-se mais ampla e
crescendo sua capacidade de mostrar e demonstrar as leis gerais da
natureza; como no sentido de que a ciência traz progresso à humanidade
como um todo, por levar a humanidade a progredir através de si. Esse é o
momento em que surgem as diversas disciplinas científicas, o
conhecimento vai tornando-se cada vez mais especializado, surgem às
ciências humanas como sociologia e psicologia, entre outras.
O positivismo influenciou muito a cultura
popular em geral, a ponto de tornarem-se parte do senso comum ao longo
do século XIX e XX. O próprio lema de nossa bandeira, “Ordem e
Progresso”, é extremamente positivista.
A série Dr. Who é uma série de ficção
científica, onde a ciência é utilizada como meio da narrativa caminhar.
Porém, ela apresenta uma crítica a essa relação entre progresso
científico e progresso ético das pessoas. Os grandes inimigos do Doutor
são inteligentíssimos, cheios de tecnologia, como Cybermans e Daleks.
Entretanto, a série nos mostra que progresso científico não implica em
progresso ético, principalmente quando vemos os próprios Senhores do
Tempo (Time Lords), serem considerados decadentes pelo Doutor.
O tempo todo, a série nos leva a refletir
da necessidade da ética estar conjugada a prática científica. Os
cientistas, na série, podem fazer grandes coisas como coisas terríveis,
havendo uma necessidade de conjugar sua prática a uma vivência ética dos
cientistas. A grande diferença do Doutor com seus inimigos mais
avançados é exatamente sua ética.
A filosofia do século XX, principalmente
na área de epistemologia (filosofia da ciência), fez uma série de
críticas ao positivismo clássico, como a própria história tratou de
demonstrar.
Isso não significa que a ciência seja
ruim, pois ela é somente um rótulo para uma série de produções de
pessoas concretas as quais necessitam da ética para não praticar o mal
buscando o progresso da humanidade. Na Segunda Guerra Mundial, por
exemplo, vimos ideias como raça pura, eugenia, entre outras, terem
“respaldo científico”, não sendo coincidência que a voz dos Daleks
lembre a maneira como Hitler discursava. A ética é um auxiliar a prática
científica ao barrar certos caminhos que prejudicariam pessoas
concretas, para buscar novos caminhos a pesquisa.
Não se deve ignorar a ciência, mas sim
aliá-la com a ética, que é o constante desafio ainda em nossos tempos,
sendo este também o grande desafio existencial do Doutor. Afinal, nem
sempre é fácil para ele lidar com certas questões. Sua imperfeição e
dúvida permite-nos pensar nossa própria relação com a ciência e a ética.
Nesse aspecto, assistir Doctor Who é uma
grande possibilidade de pensarmos a necessidade de conjugação entre
ética e ciência. Afinal, gostamos do Doutor somente por sua genialidade
ou como ele a alia com uma busca por uma vivência ética?
PS: Se ficou curioso, veja o episódio abaixo:
Publicado originalmente em: http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-dr-who-ciencia-e-progresso/#titulo
© 2013 Tiago de Lima Castro
© 2013 Tiago de Lima Castro
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