“Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos”



Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos” é um documentário brasileiro de 1998, dirigido por Marcelo Masagão, premiado no Festival de Gramado em 2000 por sua montagem; e no Festival do Recife como melhor filme, melhor roteiro e melhor montagem.
Ele aborda o século XX tem como fio condutor suas contradições, através de recortes de imagens e trechos de filmes e documentários diversos, conduzidos por frases de personalidades e de pessoas comuns. Não há diálogos ou falas durante o filme, mas as palavras somadas a imagens criam uma narrativa visual que geram no expectador uma profusão de sentimentos e climas que não somente mostra a contradição do século XX, mas o leva a vivenciá-las ao longo da experiência estética, numa verdadeira torção da temporalidade. Além da montagem de imagens e frases, a trilha sonora minimalista do compositor belga Wim Mertens tem um efeito essencial à experiência com o vídeo. Esse efeito é gerado porque a trilha é divida em pequenos trechos, com motivos simples que vão se repetindo, como é característico no minimalismo, mas que se encerram sempre após algum tempo, surgindo outro trecho com um motivo similar ao anterior, mas sem efetuar algo próximo do procedimento clássico de variações ou desenvolvimento. Este uso leva o expectador a sempre ver um acontecimento novo nas imagens, mas que não deixam de ainda serem os mesmos. Uma outra trilha sonora levaria a outros tipos de experiência estética, daí não podermos deixar de ver a música como elemento intrínseco a própria narrativa do documentário. Henri Bergson (1859-1941), filósofo francês, que desde sua primeira obra, Ensaio Imediato sobre os Dados da Consciência (1889), vai discutindo a confusão que tendemos em fazer entre tudo aquilo que é quantidade, mensurável, divisível e possível de sucessão; com a aquilo que é qualidade, indivisível, contínuo, ou seja, ao campo da duração, da apreensão do tempo pela consciência que são se dá por sucessão de momentos divisíveis, mas por com contínuo de momentos interpenetrados, onde a própria percepção somente ocorre através da memória, e não havendo uma percepção pura, já que toda percepção implica em memória. Essa confusão de nosso processo de entendimento leva, inclusive, a sociedade a um fechamento em si mesma ao usar a racionalidade – à qual teria uma função pragmática de lidar com as coisas a nossa volta– para tudo, inclusive na relação com as pessoas, fechando a sociedade em si mesma. No documentário a experiência da temporalidade é extremamente interessante, primeiro por levar o expectador a experienciar outras temporalidades que se comprimem e distendem-se ao longo do filme, colocando em cheque nossa experiência artificial com o tempo enquanto algo estático, constante e divisível durante o dia a dia, mas que em verdade ocorra de outra maneira. Não seria também a própria experiência com o tempo estático, divisível e industrial, um dos motores das contradições do século XX? Talvez o filme aposte que sim.

Originalmente publicado em: http://audiovisualufabc.wordpress.com/resenhas/


© 2013 Tiago de Lima Castro

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