Dia das Mães: O que é ser mãe hoje?

Hoje é um dia em que homenageamos as mães. Um dia em homenagem a alguém não significa que somente devamos admirar a pessoa neste dia, é somente um reconhecimento público às mães.

O papel da mãe tem mudado drasticamente no final do século XX, sendo o século XXI um momento de contínua transformação de seu papel familiar.
Ao longo do século passado, a mulher vivenciou uma revolução em seu modo de ser, com a possibilidade de trabalhar, de ter uma profissão, uma carreira, independência, e, algo paradoxal, a obrigação de ser independente.

Antes, a família apresentava uma estrutura rígida: o pai trabalha e sustenta o lar, sendo o exemplo a ser seguido pelos filhos, e mesmo a força disciplinadora quando necessário; enquanto a mãe mantém a casa do ponto de vista material, tanto trabalhando para sua limpeza e conservação, como sendo a gestora que cuida de compras, contas, orçamento, entrou outros; mas também mantenedora  do lar, no sentido da relação afetiva entre as pessoas do lar, sendo também a educadora dos filhos, já que ela os gerou em seu próprio corpo, essa ligação intima permite sua ação enquanto educadora e mantenedora de todas as relações afetivas entre os membros da lar.

Com as mudanças, iniciadas no século XX, do modo de ser do homem e da mulher em seus papéis e obrigações sociais, a família também têm se modificado. Não vemos mais estes papéis com a clareza e distinção do passado, com toda uma racionalidade implícita a esta divisão, mas necessitamos compreendê-la de um ponto de vista movente, dinâmico, onde a família transcende a necessidade de ser conceituada, em seu sentido mais estrito, para uma compreensão que não parta de um conceito fixo de família, mas parta da própria relação entre as pessoas, em constante mudança, para não cometermos o problema apontado por Bergson em sua crítica a racionalidade, que é partimos do conceito para as coisas, no caso, partimos de um conceito de família para daí obrigarmos a vivência familiar se acomodar a este conceito, mas que a própria vivência das pessoas seja a fonte desse conceito de família.

Pode-se perceber uma constante busca por uma resposta a questão o que é a família hoje, sendo que um conceito estrito limitaria contextos onde só exista um pai, uma mãe, dois pais, duas mães, filhos biológicos, parte dos biológicos e outros adotados, meios-irmãos, e toda a diversidade de famílias existentes nos dias de hoje. A própria dificuldade em pensar a relação entre família, educação e escola advém dessa contínua transmutação das famílias.
Nesse momento, a busca por um retorno a um conceito fixo de família, novo na hierarquia e divisão de papéis, mas velho por exigir uma rigidez aplicável a todos os casos, nos leva a extremos, onde uma mulher que escolhe ser mãe, num sentido mais tradicional de ser a mantenedora do lar, sofre preconceito por parte de mães que acreditam que a independência feminina seja a uma possibilidade de realmente ser mulher. Simultaneamente, mães que escolhem não ter o papel tradicional, sofrem preconceito de mulheres que escolhem o papel tradicional, poucos são os exemplos de mães que escolhem o seu jeito de ser mãe sem radicalizar o seu jeito de ser mãe como o único possível e universal. Essa tendência ao fechamento, que Bergson também aponta, pode ser bem visto nestes casos.

Temos também mães solteiras, que precisam ser pais; pais que necessitam também serem mães; casais de mulheres onde ambas são mães, cobrindo a função de pai, e necessitando dividir o papel de mãe; casais de homens, ambos sendo pais, que necessitam dividir o papel de pai e exercer o de mãe; e toda uma variedade que não conseguimos resumir num texto como este, e muito menos criar um conceito claro e distinto do que seja mãe, dentro dessa belíssima diversidade.

Talvez, uma possibilidade de compreendermos o que é ser mãe - aceitando a diversidade de situações sem fechar-se em um conceito restrito do que é ser mãe, derivado de um conceito, também restrito, do que é família -  seria apreendermos o conceito de Mãe através do Amor, pelo profundo desejo de se fazer o melhor para os filhos, mesmo que se abdicando de si mesmo – como na gestação onde a mãe abstém-se de ter o corpo somente para si, compartilhando-o com seu filho – transcendendo a ligação física, que pode resvalar em sentimento de posse ou não dar conta de todas as possibilidades de família que se apresentam, e mesmo para os demais membros do grupo familiar, onde o sentimento de busca pelo melhor para o desenvolvimento de todos, numa família mais em espírito do que de laços de sangue, como aponta Kardec, seja a base.

Essa saída de partir do Amor, inapreensível pela razão, para daí compreendermos o que é ser Mãe, é uma possibilidade para superar as dificuldades geradas pelas mudanças nos papéis sociais, principalmente, quando as crianças vão tornando-se carentes de Amor e cuidados. A racionalidade é necessária a mãe na busca de tomar as melhores decisões, mas que seja também uma racionalidade que parte do amor, sem seu sentido mais inapreensível, transcendo a posse à um infinito querer bem do próximo.
Então que o dia das mães seja não uma mera homenagem a um papel social, mas ao Amor, em sua diversidade e amplidão, que tantas mães vivenciam a cada dia, tanto em agradecimento a elas, mas que sempre possa haver novas mães, em novos contextos, em novas situações, mas com a amplidão do Amor como infinita base de possibilidades. Pois talvez não tenhamos conseguido conceituar o que é ser Mãe, mas ainda vemos muitas mães, em diversas situações, buscando vivenciar a maternidade em plenitude, e isso que deve ser homenageado e buscado.

© 2013 Tiago de Lima Castro

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