Nerdices Filosóficas – Hobbits, conhecimento e felicidade
Nas últimas colunas, discutimos sobre o estoicismo e o epicurismo, hoje vamos continuar discutindo sobre helenismo, ainda com o olhar de suas escolas filosóficas enquanto exercícios espirituais.
Talvez você estranhe que vamos falar de uma proposta concorrente ao
epicurismo para falar de hobbits ainda. Como falamos na coluna sobre Filosofia e a Realidade,
a arte e a filosofia são diferentes formas de conhecimento, e o que
fazemos na coluna é um encontro entre ambas. Todo texto, quadrinho ou
filme, pode ser analisado sem ser esgotado. Como exemplo, veja o livro O Hobbit e a Filosofia, o qual apresenta outras abordagens.
Vamos falar sobre o ceticismo de Pirro (365 a.C. —275 a.C.). Ele foi
um cavaleiro de Alexandre Magno, que após voltar de sua campanha, voltou
para sua cidade, Élis e fundou sua escola filosófica, o pirronismo (ou
ceticismo pirrônico).
Vemos que os hobbits têm certa
tecnologia, mas têm somente o essencial às suas necessidades, sem
grandes pesquisas e busca pelo progresso. Ao mesmo tempo, vemos que eles
não dão muita importância ao conhecimento que está fora de suas
necessidades práticas. Vemos que os elfos, por exemplo, tem o
conhecimento também como um fim, similar aos magos. Já os hobbits não,
eles simplesmente buscam conhecer o necessário às suas atividades, sem
ter o próprio conhecimento como um objetivo em si mesmo.
Isso mostra uma postura cética semelhante
a de Pirro. Ele propunha que não tínhamos condições de conhecer as
coisas como realmente são, então a única coisa cabível ao homem é a
suspensão do juízo (no gr. epoché). O fato de aceitarmos nossa
incapacidade de conhecer as coisas como são, nos leva à infelicidade, à
tristeza e à perda da paz de espírito, daí ser a epoché, a suspensão do juízo, a maneira do homem conseguir a paz de espírito, a ataraxía, e daí a felicidade. Embora outros céticos compreenderam o ceticismo de maneira diferente, o nosso foco é o ceticismo de Pirro.
Como somos modernos, temos dificuldade em entender como a suspensão do juízo (epoché)
pode nos trazer felicidade, se em nosso mundo a ciência muitas vezes
deixa de ser um meio para ser um fim em si mesmo. Pense no sofrimento
que a ansiedade para saber alguma coisa, por exemplo, nos perturba
interiormente. Principalmente em fofocas, comentários de outras pessoas
sobre nós…
Pense também na angústia em saber o que
ocorre no próximo livro de uma saga, no próximo número da HQ, no próximo
capítulo de uma série, de um anime, de uma novela, de um filme… Ou
mesmo a angústia para vermos o Facebook, o Youtube, e todas as fontes de
informação que a Internet nos propicia.
Na própria ciência, vivemos uma busca tão
grande de conhecimento que perdemos a noção de finalidade, tornando a
própria busca científica em um angustiante fim em si mesmo, a ponto de
negligenciarmos questões éticas intrínsecas a ciência.
Talvez precisemos adotar uma atitude
pirrônica em relação a esta sede de saber e se informar, como vemos nos
próprios hobbits. Quando eles necessitam de algum saber para alguma
finalidade específica, o buscam, não sofrendo com a ansiedade de ter que
saber tudo, mantendo sua paz de espírito e felicidade. Não estamos
dizendo que deveríamos renunciar ao conhecimento, mas tensionar esta
busca com o ceticismo pirrônico, para que não deixemos o conhecer
engolir o próprio ser.
Recomendo escutar o Randomcast sobre Alexandre
e refletir o quanto a própria campanha de Alexandre o levou a esta
proposição. Também recomendo rever livros e filmes sobre hobbits,
buscando pensar e observar sua relação com o conhecimento e refletindo
se não temos exagerado em sua busca.
Fontes para aprofundamento
Elogio da filosofia antiga, Pierre Hadot
Elogio de Sócrates, Pierre Hadot
Introdução à história da filosofia: As escolas helenísticas, Marilena Chauí
O Hobbit e a Filosofia, Gregory Bassham e Eric Bronson
The Hobbit, J. R. R. Tolkien
The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, J. R. R. Tolkien
Vocabulário grego da filosofia, Ivan Gobry
Elogio de Sócrates, Pierre Hadot
Introdução à história da filosofia: As escolas helenísticas, Marilena Chauí
O Hobbit e a Filosofia, Gregory Bassham e Eric Bronson
The Hobbit, J. R. R. Tolkien
The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring, J. R. R. Tolkien
Vocabulário grego da filosofia, Ivan Gobry
Publicado originalmente em: http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-hobbits-conhecimento-e-felicidade/
© 2013 Tiago de Lima Castro
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