Nerdices Filosóficas – O que é o Herói
Vamos começar a falar sobre um tema importante ao mundo Nerd: o
Herói. Esse termo aparece frequentemente em filmes, livros, quadrinhos,
RPG, entre outros. Eis que surge a questão: o que é o Herói?
Primeiramente, necessitamos não confundir herói com super-herói, já
que este é característico do século XX em diante, já a figura do herói
perpassa toda a história ocidental desde a remota Grécia, passando por
Roma, no cavaleiro medieval, reaparecendo na literatura romântica até
nossos dias.
Talvez você esteja se perguntando por que o Oriente não foi citado.
Na cultura nerd, a figura do samurai também é extremamente influente, e
todos os aspectos culturais a sua volta, mesmo que tal influência seja
sempre filtrada pelo olhar ocidental. De forma que mesmo para analisar
sua influência na cultura nerd, precisamos compreender o olhar ocidental
sobre o herói primeiramente. Se quiser se aprofundar no tema samurais, aconselhamos os dois Randomcasts realizados sobre sua história.
Outra pergunta pode estar passando em sua mente: não há filosofia
oriental também? Por que não investigar essa questão também através da
filosofia oriental? Podemos discutir essa questão em outro momento, mas
vamos voltar ao herói ocidental por enquanto.
Originalmente, toda a educação grega tem como princípio e finalidade o
ideal do herói. Isto está relacionado ao próprio processo de formação
da sociedade grega, que originalmente foi uma sociedade de guerreiros e
músicos. Tendemos a imaginar a Grécia Antiga como a Atenas democrática,
que ocorreu em um momento histórico específico e não na totalidade de
sua história.
Para entender o herói naquele contexto, vamos utilizar os conceitos de potência e ato
de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). Pense em uma semente e sua
árvore. A semente é uma árvore em potência, pois ela tem todas as
condições, em si mesma, de tornar-se uma árvore. Se ela realizar-se como
árvore, então ela será uma árvore em ato, e não mais em potência, e
temos que levar em conta que a semente não se realiza como árvore. De
maneira que a potência tem a possibilidade de ser, o ato não é mais uma
possibilidade, mas uma realização concreta.
O herói, para o grego, é o ato. Isso que dizer que todo homem tem as
possibilidades de ser um herói, ou seja, é um herói em potência, mas
somente aqueles que desenvolvem estas possibilidades de maneira plena é
que se tornam heróis, ou seja, heróis em ato, homens completos.
O grego enxergava no herói um ser humano plenamente realizado, com suas virtudes (do gr. areté, apesar da palavra virtude não traduzir o termo plenamente) físicas e intelectuais em plenitude.
As fontes clássicas sobre o ideal do herói são as epopeias Ilíada e Odisséia de
Homero. Talvez você se questione se os heróis gregos, como Aquiles ou
Odisseu, têm origens divinas. Isso é verdade, mas o ideal do herói era
cultivado pela aristocracia grega, pois inicialmente quem guerreava eram
os nobres, que se viam como descendentes de algum deus. Mas diferente
dos deuses, o herói não é imortal, sendo que o peso da mortalidade é
essencial ao herói.
O herói era visto como o ideal do Kálos (Belo) e Agathos
(Bom), ou seja, um homem belo, fisicamente realizado, e bom,
espiritualmente realizado (poderíamos dizer mentalmente, mas o termo
derivado de espírito é mais utilizado pelos especialistas). Daí todo
herói ser belo e inteligente, já que para ser herói não basta ter
desenvolvido somente atributos físicos ou intelectuais, mas um homem
completo, um herói, apresenta ambos em plenitude, sendo, portanto, o
mais próximo do divino mesmo sendo mortal.
Um personagem como o Batman é muitas vezes apresentado como a
excelência humana, sendo mais próximo do herói grego do que do
super-herói, inclusive o fato dele ser rico. Tente pensar em outros
heróis que apresentam estas características e debata conosco nos
comentários.
Semana que vem continuamos com nossas Nerdices Filosóficas, e ainda
com o tema herói. Para quem quiser se aprofundar no assunto, os links
das prof.as Gilda de Barros e Maria Tsuruda, e do prof.
Wilson Ribeiro Júnior ajudam a aprofundar o tema, como as demais
indicações, assim como a coluna de Mitologia do Randomcast.
Fontes para aprofundamento
Apontamentos para o Estudo da Areté [Maria A. L. Tsuruda]
Areté e cultura grega antiga: pontos e contrapontos [Gilda N. M. de Barros]
As origens do pensamento grego [Jean-Pierre Vernant]
Felicidade: Dos filósofos pré-socráticos aos contemporâneos [Franklin Leopoldo e Silva]
História da educação na antiguidade [Henri-Irénée Marrou]
Ilíada e Odisséia [Homero]
O paradigma do herói [Gilda N. M. de Barros]
Paidéia: A formação do homem grego [Werner Jaeger]
Portal Graecia Antiqua [Wilson A. Ribeiro Jr.]
Areté e cultura grega antiga: pontos e contrapontos [Gilda N. M. de Barros]
As origens do pensamento grego [Jean-Pierre Vernant]
Felicidade: Dos filósofos pré-socráticos aos contemporâneos [Franklin Leopoldo e Silva]
História da educação na antiguidade [Henri-Irénée Marrou]
Ilíada e Odisséia [Homero]
O paradigma do herói [Gilda N. M. de Barros]
Paidéia: A formação do homem grego [Werner Jaeger]
Portal Graecia Antiqua [Wilson A. Ribeiro Jr.]
Publicado originalmente em: http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-o-que-e-o-heroi/]
© 2013 Tiago de Lima Castro
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