Nerdices Filosóficas – O que é o Herói

Nerdices Filosóficas
Revisão: Juan Villegas
Vitrine: Valério Gamer

Vamos começar a falar sobre um tema importante ao mundo Nerd: o Herói. Esse termo aparece frequentemente em filmes, livros, quadrinhos, RPG, entre outros. Eis que surge a questão: o que é o Herói?

Primeiramente, necessitamos não confundir herói com super-herói, já que este é característico do século XX em diante, já a figura do herói perpassa toda a história ocidental desde a remota Grécia, passando por Roma, no cavaleiro medieval, reaparecendo na literatura romântica até nossos dias.

Talvez você esteja se perguntando por que o Oriente não foi citado. Na cultura nerd, a figura do samurai também é extremamente influente, e todos os aspectos culturais a sua volta, mesmo que tal influência seja sempre filtrada pelo olhar ocidental. De forma que mesmo para analisar sua influência na cultura nerd, precisamos compreender o olhar ocidental sobre o herói primeiramente. Se quiser se aprofundar no tema samurais, aconselhamos os dois Randomcasts realizados sobre sua história.

Outra pergunta pode estar passando em sua mente: não há filosofia oriental também? Por que não investigar essa questão também através da filosofia oriental? Podemos discutir essa questão em outro momento, mas vamos voltar ao herói ocidental por enquanto.

Originalmente, toda a educação grega tem como princípio e finalidade o ideal do herói. Isto está relacionado ao próprio processo de formação da sociedade grega, que originalmente foi uma sociedade de guerreiros e músicos. Tendemos a imaginar a Grécia Antiga como a Atenas democrática, que ocorreu em um momento histórico específico e não na totalidade de sua história.

Para entender o herói naquele contexto, vamos utilizar os conceitos de potência e ato de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.). Pense em uma semente e sua árvore. A semente é uma árvore em potência, pois ela tem todas as condições, em si mesma, de tornar-se uma árvore. Se ela realizar-se como árvore, então ela será uma árvore em ato, e não mais em potência, e temos que levar em conta que a semente não se realiza como árvore. De maneira que a potência tem a possibilidade de ser, o ato não é mais uma possibilidade, mas uma realização concreta.

O herói, para o grego, é o ato. Isso que dizer que todo homem tem as possibilidades de ser um herói, ou seja, é um herói em potência, mas somente aqueles que desenvolvem estas possibilidades de maneira plena é que se tornam heróis, ou seja, heróis em ato, homens completos.

O grego enxergava no herói um ser humano plenamente realizado, com suas virtudes (do gr. areté, apesar da palavra virtude não traduzir o termo plenamente) físicas e intelectuais em plenitude.

As fontes clássicas sobre o ideal do herói são as epopeias Ilíada e Odisséia de Homero. Talvez você se questione se os heróis gregos, como Aquiles ou Odisseu, têm origens divinas. Isso é verdade, mas o ideal do herói era cultivado pela aristocracia grega, pois inicialmente quem guerreava eram os nobres, que se viam como descendentes de algum deus. Mas diferente dos deuses, o herói não é imortal, sendo que o peso da mortalidade é essencial ao herói.

O herói era visto como o ideal do Kálos (Belo) e Agathos (Bom), ou seja, um homem belo, fisicamente realizado, e bom, espiritualmente realizado (poderíamos dizer mentalmente, mas o termo derivado de espírito é mais utilizado pelos especialistas). Daí todo herói ser belo e inteligente, já que para ser herói não basta ter desenvolvido somente atributos físicos ou intelectuais, mas um homem completo, um herói, apresenta ambos em plenitude, sendo, portanto, o mais próximo do divino mesmo sendo mortal.

Um personagem como o Batman é muitas vezes apresentado como a excelência humana, sendo mais próximo do herói grego do que do super-herói, inclusive o fato dele ser rico. Tente pensar em outros heróis que apresentam estas características e debata conosco nos comentários.

Semana que vem continuamos com nossas Nerdices Filosóficas, e ainda com o tema herói. Para quem quiser se aprofundar no assunto, os links das prof.as Gilda de Barros e Maria Tsuruda, e do prof. Wilson Ribeiro Júnior ajudam a aprofundar o tema, como as demais indicações, assim como a coluna de Mitologia do Randomcast.

Fontes para aprofundamento

Apontamentos para o Estudo da Areté [Maria A. L. Tsuruda]
Areté e cultura grega antiga: pontos e contrapontos [Gilda N. M. de Barros]
As origens do pensamento grego [Jean-Pierre Vernant]
Felicidade: Dos filósofos pré-socráticos aos contemporâneos [Franklin Leopoldo e Silva]
História da educação na antiguidade [Henri-Irénée Marrou]
Ilíada e Odisséia [Homero]
O paradigma do herói [Gilda N. M. de Barros]
Paidéia: A formação do homem grego [Werner Jaeger]
Portal Graecia Antiqua [Wilson A. Ribeiro Jr.]

Publicado originalmente em: http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-o-que-e-o-heroi/]

© 2013 Tiago de Lima Castro

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