O Labirinto do Fauno, Hannah Arendt e a Banalidade do Mal

Este texto não tem como objetivo fazer uma crítica cinematográfica deste filme, mas examinar o filme dentro de uma ótima filosófica, partindo do conceito de Banalidade do Mal de Hannah Arendt. Se você ainda não assistiu o filme recomendo parar por aqui, assistir o filme, e somente depois ler esta análise. Tem algumas críticas abaixo, que também são bem interessantes de serem lidos.
Esse filme já recebeu diversas análises através da psicologia, da psicanálise, e mesmo de outras áreas, mas não é este o foco do texto.

Pensemos juntos, será que essa ambiguidade proposital entre realidade e da fantasia não seria uma forma de nos levar a comparar estes dois aspectos da narrativa? Tente pensar nessa hipótese interpretativa… Talvez a ambiguidade seja uma forma de nos levar a comparar estes dois eixos, o da realidade e o da fantasia.
Logo no início, coloca-se no eixo da fantasia que no reino original de Ofélia não há mal, mentira ou dor, de maneira que nesse eixo de fantasia, não existe mal, podem existir testes, podem haver criaturas movidas pelo puro instinto, mas não pelo mal. Esta colocação pode ser interpretada como uma referência as diversas propostas filosóficas sobre o mal, onde ele é somente a ausência de bem.




Voltando a Ofélia, que ao longo do filme passa por testes para saber se não contaminada pelo modo de ser humano, tem em seu teste final a necessidade de derramar sangue humano de seu pequeno irmão, escolhendo poupá-lo, quando então é assassinada pelo Capitão Vidal. Quando acorda em seu reino original seu pai lhe explica que o teste era saber se ela iria, ou não, simplesmente obedecer a ordem de alguém e derramar sangue inocente, e ao escolher não fazê-lo, sacrificando-se dando seu próprio sangue para abertura do portal. Podemos pensar que o medo de seu pai, era que Ofélia ficasse contaminada com o modo de ser dos humanos modernos, que passaram a tratar os demais, e as próprias criaturas mágicas, como meras coisas. E não custa lembrar que no início do filme é proposto que originalmente as coisas não eram, apontando para uma escolha dos próprios seres humanos de tomarem outro caminho.
Dessa maneira, vemos que o filme nos mostra como mal pode ter origem em nossa própria banalidade. Por mais que esta reflexão nos leva a pensar primeiramente em soldados, nós mesmos podemos estar praticando o mal de maneira banal, talvez sendo isso que nos causa tamanha tristeza ao ver o final, pois talvez sejamos como o Capitão Vidal e nem ao menos temos conta disso…
Recomendamos que leia as indicações abaixo e busque rever o filme com esse olhar. Depois, pense um pouco se não estamos fazendo algum mal, simplesmente por obedecer ordens sem refletir e mesmo se não estamos tratando as pessoas a nossa volta simplesmente como coisas… Tal reflexão pode parecer deprimente, mas podemos escolher como Ofélia e o Doutor Ferreiro fizeram…
Críticas do Filme
- http://spotlightofhighness.blogspot.com.br/2011/12/critica-o-labirinto-do-fauno.html – Gabriel Frati
- http://planocritico.ne10.uol.com.br/critica-o-labirinto-do-fauno/ – Gabriel Neves
- http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-o-labirinto-do-fauno/ - Marcelo Abbade, do site Omelete
- http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=3480 - Pablo Villaça, do site Cinema em Cena
Artigos sobre Hannah Arendt
- AGUIAR, Odílio Alves. Violência e banalidade do mal
- ANDRADE, Marcelo. A banalidade do mal e as possibilidades da educação moral: contribuições arendtianas
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